quarta-feira, 21 de julho de 2010

EU VI

O CR joga domingo no "Augusto Antunes", em Santana, cidade portuária do Amapá, localizada a 22km de Macapá, capital do Estado.
O Estádio foi construído pela ICOMI - Industria de Comércio de Minério - que era a detentora dos direitos de exploração e exportação do manganês, extraído das minas de Serra do Návio.
Na década de 60 a empresa construiu duas cidades no Amapá: Vila Amazonas, em Santana, e Vila de Serra do Návio,na mina, com toda estrutura necessária ao lazer dos seus funcionários; e nesses complexos foram construidos dois pequenos estádios,com gramdo e iluminção perfeitos.
A ICOMI era tão diferente de tudo que havia no Amapá, que os seus funcionários eram tidos como endinheirados e faziam a diferença no comércio macapaense. Eram chiques.
A empresa premiava, ao final de cada ano, os funcionários com melhor desempenho nas suas atividades com férias no Rio de Janeiro ou um relógio "Omega".
Era tanta frescura, que as donas de casas que melhor cuidassem da frente das suas residências eram premiadas com um salário no fim do ano.Então, não criavam galinhas e outros bichos em seus quintais. As frentes eram todas jardinadas.
Quando Humbeto Moreira, o mais icônico narrador esportivo do Amapá, anunciava na Rádio Difusora de Macapá que o CR ou PSC jogaria no "Augusto Antunes" contra o Santana era um tormento na minha cabeça de adolescente pobre que morava em Macapá, distante a 22km.
Na praça da "Conceição", eu e colegas bolávamos o que fazer para arranjar dinheiro e irmos ao "Beira Rio".
No dia do jogo, eu e a galera saíamos cedo, a pé, pela rodovia Macapá-Santana, hoje "Duca Serra"; na Lagoa dos índios,na metade do caminho, tomávamos banho, e depois de refrescarmos a cabeça partíamos em busca do nosso destino.
Lá pelas 16h chegávamos no estádio; definíamos o plano para ultrapassar o muro do estádio, pelo lado do matagal, margeando o Rio Amazonas. estava cedo para a execução.
"Deixa escurecer", falava o Zuzu, o mais velho da turma.
Enquanto não escurecia, eu vendia manga ou ameixa pretinha para quem chegava cedo ao estádio. Com dinheiro enrolado no cóes do calção, chegou a hora de dar o bote.
Lá ia eu e a turma; e quando chegávamos no lado oposto à frente do estádio, nos transformávamos em "tatus", cavando a base do muro. E haja meter pau e mão na lama. Finalmente, o buraco estava a nossa frente, permitindo que o um corpo pudesse atravessá-lo. Um a um passava no buraco e, finalmente, estávamos dentro do estádio. Era a glória!
Na arquibancada, todo sujo de lama, eu fazia parte da galera que pagou prá ver
Françoa, Neves, Ribeiro, Amoroso, Waltinho, Alcino(CR) e Sabá, Wanderlei, Dente de Cão, Jangito, Mareco, Nego, Marco Antônio(Santana)
O jogo era pau a pau. Vi CR e PSC perderem para Santana, Macapá ou São José, dentro do "Augusto Antunes" ou "Glicério Marques". Times amapaenses que tinham em suas onzenas jogadores do naipe de Zezinho Macapá, Jangito, Mareco, Faustino, Tico-Tico(no Baenão Zezé), Ubiracy, Alceu, Bira, Aldo e Assis.
Na década de 70 surgiram: Edgar, Marcelino, Amaral, Jorginho Macapá, Celso, Rildo, Tiago, Roberto Gato que despontaram em CR e PSC.
Hoje Santana é um município e, por conseguinte, a Vila Amazonas, que fica a 5km do porto, faz parte do patrimônio público.
Estou fora de Macapá havia 31 anos e espero que o poder público santanense tenha - pelo menos - zelado pelo elogiado gramado do gracioso "Augusto Antunes".
É o que há!

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