sábado, 17 de abril de 2010

NEGRI E FREUD: TORCEDOR E AUTENTICIDADE

Tenho dito nos programas que apresento na rádio Liberal AM que quem vive o futebol, como atleta, cartola ou cronista esportivo e que diz não torcer por um clube está em atividade errada. Ouso dizer que é amorfo, indefinido ou frouxo. Como é o caso aqui em Belém de "latinhas" que amam Remo ou PSC, mas não revelam por medo. Respeito a opinião, mas discordo da postura.
Minha paixão pelo PSC começou em Macapá, influenciado por um açougueiro chamado Joaquim, que tinha seu mercadinho - o único do bairro do Trem -, na 1º de Maio, onde remistas - quando o CR vencia o PSC - não comprovam carne. Não adiantava entar na fila que ele não vendia... Era folclórico e respeitado pela comunidade. Essas reminiscências aconteceram na década de 60, quando a Tia Maria mandava-me guardar vaga, na fila, para comprar "miúdos".
Penso que torcer por um clube só se deixa quando morremos. Diferente do apego por uma mulher, que podemos amar e depois desamar e na maioria das vezes se tornam inimigos figadais. Nem se olham! O apego entre um ser e um clube, quanto mais derrotas, mais amor se configura. Aumenta a paixão.
O amor clubístico é um fenômeno profundamente íntimo. E pode ser um sofrimento oculto àqueles que não se revelam.
Na década de 90, no Rio de Janeiro, tive contato com uma obra do cientista social italiano Antônio Negri, que foi terrorista das Brigadas Vermelhas, cumpriu prisão e na ociosidade escreveu: OS PADECIMENTOS DE UM TORCEDOR. Como torcedor do Milan ele se viu cercado de torcedores da Lazio e da Roma, e num dos trechos da obra ele afirma: "Ouso pensar que o próprio futebol deveria ser eliminado porque é, em todo lugar, uma prisão; e que as prisões deveriam ser destruídas porque, em todo lugar, estão invadidas pelo futebol."
Freud explica nas suas teorias psicanalíticas, que só há autenticidade em dois atos humanos: fazendo arte e o prazer sexual. Ele, penso, nunca foi num campo de futebol, e, portanto, nunca torceu.É o que há!

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