terça-feira, 15 de novembro de 2011

O JEITO ANDRADE NÃO ME FASCINA, MAS ME EMOCIONA


Andrade é simples. Calado. Educado. Atencioso. Inobstante o físico roliço, ele é manso. Dócil.

Jogadores, membros da comissão técnica e funcionários elogiam a civilidade de Andrade. Cumprimenta a todos que encontra pela frente na Curuzu. Conversa com os jogadores no vestiário e deseja saber o que se passa com seus pupilos. Isso é compaixão. É querer saber como o seu semelhante está.

Ele se coloca no lugar dos seus amigos. Pensa muito antes de agir.

Eu vi este mineiro de Juiz de Fora jogar futebol (pela TV) e arrebentar com o todo-poderoso Liverpool, Campeão Europeu, numa noite de 13 de dezembro de 1981, em Tóquio. Eu morava na travessa Pariquis, entre Quintino e Generalíssimo. Nazaré. Era estudante da UFPA e repórter da Rádio Guajará.

Ao lado de Adílio, Andrade era o segundo volante, com a função de desarmar e entregar para o Zico, ou lançar em profundidade. Volante técnico, com excelente visão de campo. Ele fazia o que hoje fazem os meias do Barcelona: desarmam, armam e atacam.

Naquele Flamengo campeonissimo, o técnico Carpegiani montou o time com dois volantes (Adílio e Andrade) e um meia-atacante, Zico, o cérebro da equipe. O mais querido do Brasil jogava num 4x3x3: Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Junior; Adílio, Andrade e Zico; Tita, Lico e Nunes.

Andrade, como jogador, conquistou cinco títulos nacionais, e como treinador, um, o de 2009, quando o clube dispensou Cuca, e Andrade assumiu interinamente, mas como venceu os dois jogos seguintes, acabou sendo efetivado. Resultado: campeão.

“O Flamengo foi campeão brasileiro em 2009 a base de muito treino, muita conversa e cumplicidade entre mim e os jogadores. No Paysandu não tem sido diferente: converso com os atletas e procuro passar a eles confiança no que eles executarão em campo. Não é preciso gritar,” tem dito Andrade em suas entrevistas.

Tenho ido aos treinos do Paysandu ao comando de Andrade: Curuzu, Mangueirão e Centro da Juventude e fico a observar o modo de trabalho do treinador, e a sua didática é silenciosa e isso me incomoda. Jouber Meira, Carlinho Silva eram assim também e marcaram suas passagens pelo Baenão e no futebol brasileiro.

Cristovão Gomes, no Vasco, faz o estilo caladão. Há quem diga que o sucesso dele deva-se a uma “força estranha” chamada Ricardo Gomes. Não sei. Só sei que vendo o time do Vasco jogar me passa a ideia de um time possuído por uma força que transcende. Eu sonho em ver o Paysandu jogando assim contra Luverdense e América de Natal.

Dizem que “de onde não se espera, de lá que vem”. Espero que Andrade dê ao Paysandu o dinamismo que ele demonstrava dentro de campo como jogador. O seu estilo não tem me fascinado, mas me emociona. Essa minha bipolaridade, em relação ao trabalho de Andrade à frente do time do PSC, talvez seja em decorrência da minha própria natureza irriquieta ou convivência com treinadores que falam muito e que pulam e gesticulam à beira do gramado. Sempre foi assim em Belém.
É o que há!

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