quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
UMA DAS MINHAS PAIXÕES!
Uma das mentes mais férteis do início do século XXIX foi à do francês Marcel Proust que lançou uma única obra: EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO que tenho o prazer de tê-la em minha humilde estante do meu lar “dois-prá-lá-dois-prá-cá”.
Na obra, o romancista discute em exaustão os temas o TEMPO E A MEMÓRIA. Diz ele: “Com o passar dos anos tudo é levado de arrasto, modificando, transformando, vencendo e extinguindo todos os sentimentos, paixões amores, ideias, opiniões e até os corpos. Com o passar do tempo, o esquecimento e a indiferença sobem das profundezas do indivíduo para destruir tudo aquilo que o ser humano julgara eterno e inamovível”.
Em outro parágrafo, através do personagem, Proust sentencia: “Cada vez mais ele se convence de que o amor, como qualquer sentimento, se degrada e destroi com o passar do tempo”. Não é verdade.
Um clube de futebol não trai, não engana, não mente; perde e quanto mais perde mais aumenta a paixão; fica-se irado quando o time perde, mas logo passa e basta à próxima vitória para tudo “se acabar na terça-feira”.
A minha paixão pelo Paysandu começou na década de 60, em Macapá, pelo exemplo de amor que via expresso nas atitudes do “seu” Joaquim, açougueiro único do meu bairro Trem. Nas tardes de domingo o conhecido vendedor de carne saia às ruas do bairro com um enorme rádio ZENITH no ombro às alturas ele e quem passassem do seu lado ouvindo a transmissão da Rádio Clube do Pará. E quando o Paysandu vencia tudo era alegria no seu talho, mas se o Paysandu perdia, ele não abria o açougue no dia seguinte prá não aturar as gozações dos remistas, e, consequentemente, prá eles não vendia um grama de carne. Ele era folclórico e amigo da garotada. Eu era um desses “chapas” do “seu” Joaquim, porque fazia mandado prá ele e ganhava trocados.
Com seu ZE NITH, aos domingos, à tarde, chegava à taberna do turco Chafik, esquina da Jovino Dinoá com Desidério Antônio Coelho (Praça da Conceição) e tomava talagadas de” Canta Galo” a cada gol de Quarentinha, Tuíca e outros. Ele aumentava o volume do rádio.
Acabava o jogo. Paysandu vitorioso. Ele saia pela Jovino Dinoá com seu inseparável “amigo” no ombro e gritando “Papão, Papão, Papão!!!” E eu e o Zuzu, Manelão, Didias, Bianor, Jaime e outros meninos saíamos atrás repetindo suas palavras.Quando chegava no bar do “seu” Luiz Góes, perto do seu açougue, ele mandava o balconista distribuir picolé e garapa com pão prá todos nós. Festa!
Chego em Belém no final da década de 70 prá estudar Letras e depois Jornalismo na UFPA e em 80 consigo o que queria; ser repórter esportivo na Rádio Guajará ao lado de Zaire Filho, Guilherme Guerreiro, José Maria Simões e outras feras. O chefe, o Zé Simões, manda-me para o Baenão. Foi um dos meus primeiros sofrimentos ocultos em Belém do Pará e aprendi a separar o joio do trigo. Logo que cheguei ao Baenão deparei-me com dois consagradíssimos repórteres: Jurandir Bonifácio e Walfong Fontes Filho. Remistas até a medula. Quando indagado sobre minhas cores clubísticas não neguei: “Torço pelo Paysandu!” E sou grato ao Juruca por não ter me derrubado aos cartolas.
A princípio foi angustiante prá eu ter que divulgar os fatos do Clube do Remo denotando paixão. O repórter que torce por um clube e trabalha em outro tem que ser ator e que ator. Pior: quando o clube do seu coração vence e você não pode manifestar alegria dentro do clube que você trabalha. Tem que ser dissimulado.
Paysandu, 97 anos, o maior detentor de títulos no Pará; o único clube do Norte do Brasil que deu as maiores glórias para o futebol da Amazônia.
Marcel Proust não soube o que foi amar um clube de futebol e é, talvez, por isso, que seja um romancista decepcionado com o amor. Eu amo e vou morrer amando as mulheres que amei – principalmente as mães dos meus filhos – e o Paysandu!
É o que ha!
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O verdadeiro amor é assim...como vc descrevi..passa o que passar..nao acaba nunca.Pode ate esfriar mas quando vc se depara com ele, ou algo que te lembre volta tudo a tona com forca total....Seja lá o que for: Futebol, Musica, Pai, Mae, Filhos ou ate mesmo muma pessoa do passado....Esse é o meu COMBUSTIÍVEL. TE ADMIRO MUITO...Adoro ver vc falar com seguranca e propiedade no geral.(Principalmente sobre o Papao)
ResponderExcluirEu e meu marido somos seus fas. Abraco.
Sharon Bastos.