segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

NOVA ORDEM

Assistindo pela TV ao baile do Barcelona sobre o Santos me veio a mente o quanto tenho sido ridículo quando anuncio nos programas que apresento na Rádio Marajoara que CR ou Paysandu foram escalados no 4-4-2, 3-5-2, 4-5-1, 4-3-3. Francamente, é demodê.

Saí de casa para o trabalho com a sensação que o mundo do futebol está vivendo uma nova filosofia de jogar Bola: recuar, marcação forte e ataque com toques refinados que deixam os marcadores estonteantes sem saber a onde à bola está. É a sensação que tive ao ver o time do Barcelona brincar de jogar bola.

E a ordem foi dita um dia antes do jogo pelo técnico Guardiola: “A ordem é não deixar Neymar e Ganso pegarem na bola”. Ou seja: a bola não tinha que chegar aos pés dos dois criadores santistas. E não chegou. E nem por isso o técnico santista criou antídoto. E nós ficamos a lhe endeusar como o melhor técnico brasileiro.

Na final da Copa de 70, quando o Brasil sagrou-se tricampeão, ganhando da imbatível Itália, o cineasta e poeta Pasolini escreveu em um jornal italiano que “a Itália jogava como prosa, e o Brasil como poesia”. Eram as formiguinhas do Zagalo que jogavam por intuição, por cinestesia. Estava aparecendo uma nova filosofia. Rivelino, Pelé e Tostão não jogavam, transgrediam a ordem de jogar bola.

Em 1974 a seleção holandesa assustou o mundo com o “carrossel” holandês, criação do dinâmico Rinus Michel que quem deveria correr eram os jogadores e não a bola, como pensava Rivelino.

Cruyff, Krol, Neeskens e Rosenbrink reinventaram a forma de jogar futebol: tinham fôlego de trator de esteira. A ciência da fisiologia do exercício entrava em campo e o mundo esportivo tinha que se render a nova ordem.

Assim como nas artes, o futebol tem também suas épocas, suas estéticas, seus artistas e cada um com seus estilos. Em 58, 62, 70 e 2002 o Brasil foi escalado num 4-3-3; o Flamengo em 81, campeão do mundo, num 4-3-3, mas o time de Parreira, em 94, foi o feijão com arroz: 4-4-2. Cada time com forma de jogar diferente, obedecendo aos estilos de época.

Qual a posição de Xavi? Ele é volante ou meia de ligação? Quem é o centroavante do Barcelona? O técnico Pep Guardiola conseguiu fazer no time Catalão o que os técnicos de basquetebol fazem: defender e atacar com todos os jogadores em velocidade. Esta é a nova ordem de jogar bola.

Aliás, não é à toa que os jogadores Piqué, Busquets e Xavi, quando de folga, vão à quadra do time de basquetebol do Barça e enxertam o time reserva. Taí a forma de jogar do Xavi, que não tem posição fixa dentro de campo. E a posse de bola é o desejo de consumo do time de Messi, que é gênio, e gênio pensa rápido e executa com perfeição. Viu o primeiro gol?
A peia que o time de Neymar levou do Barcelona sirva de lição para os técnicos e jogadores do futebol brasileiro e de experiência prá nós jornalistas esportivos que gostamos de falar em esquemas de futebol e de “achismos”.

Dá-me engulho de ouvir comentarista de rádio dizer que “acha” que o time tal deveria jogar assim...

“Experiência é como um farol iluminando para trás” (Pedro Nava).
É o que há!

3 comentários:

  1. ONTEM FOI SEPULTADO O PENSAMENTO DE MUITOS QUE PENSAM QUE SÓ BRASILEIRO SABE JOGAR FUTEBOL!! ALGUEM TÊM DÚVIDAS QUE A ESPANHA SERÁ A CAMPEÃ NA COPA DE 2014 NO BRASIL???

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  2. Senhores para reflexão:
    1) No futesal já não somos a unanimidade mundial. A Espanha e até mesmo Portugual já nos ganharam em decisões de mundiais;
    2) No futebol após 1970, o futebol brasileiro nada inventou só copiou e ficou agarrado na qualidade técnica individual de seus jogadores;
    3) Ganhamoss em 1994, com o tal "futebol pragmático" de Zagalo e Parreira, e em 2002, carregados por Rivaldo e Ronaldo Fenômeno;
    4) Hoje times como Barcelona, Real e outros fabricam seus jogadores e estão cada vez menos importando jogadores;
    5) Nossos "craques" atualmente, são contratados por times de segunda linha do futebol europeu, como os da Rúsia, Turquia e outros de menor importância.
    2014 tá chegando, além da vergonha com a organização da competição (falta de aeroportos condisentes, obras dos estádios atrazadas e péssima mobilidade urbana), devemos pelo jeito perder mais uma Copa dentro do Brasil e agora não sei se chegaremos pelo menos na final.

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  3. Deu para notar a angústia da mídia nacional. O jogo de ontem serve como um terrível parâmetro para a copa de 2014. Com um diferencial: em 2014 não será somente a Espanha à nossa frente, haverá também a Alemanha, a Holanda e o Uruguai. Óbvio que entre seleções a diferença não será tão grande. A Espanha não vai dar no Brasil o "vareio" que o Barça deu no Santos, mas vai ganhar. Estamos muito abaixo dos outros times.

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