terça-feira, 17 de janeiro de 2012

GRATIDÃO


Ele nasceu numa família bicolor no bairro do Trem em Macapá.

O pai, Herondino, e a mãe, Joana, bicolores apaixonados e não deixavam de escutar jogos do bicola pela Rádio Clube do Pará. À época, a emissora belenense mais ouvida em Macapá.

Da imensa prole do velho “heró” (guarda territorial), cinco filhos jogavam o fino da bola. Garotos peladeiros da praça “Nossa Senhora da Conceição”: Assis, Aldo, Haroldo Santos, Bira e Marco Antônio. Estes cinco “piquenos” foram titulares do time do Esporte Clube Macapá, campeão da Copa Amazônia, em 1973, em Rondônia, em partida memorável contra o Juventus do Acre.

Macapá era uma cidade de 100 mil habitantes e que todos se conheciam pelo sobrenome do patriarca ou matriarca da família: Espírito Santo, Waith, Nely, Ramos, Trindade (a minha mãe tacacazeira em uma das esquinas da “Conceição”), Ramos, Barbosa, enfim... E com a conquista do título de campeão da Amazônia pelo Azulino macapaense surgem três nomes nos programas esportivos das rádios Difusora e Educadora “São José” de Macapá - Haroldo Santos, Aldo e Bira, os meninos do velho “Heró”.

Eu e Luís Melo apresentávamos o programa O MOMENTO ESPORTIVO, 13h, na Rádio Educadora “São José” de Macapá, emissora de propriedade da Prelazia de Macapá, que tinha como bispo Dom Aristides Pirovano (Anos depois foi transferido para administrar o leprosário de Marituba)

Haroldo Santos (o craque), o Nacional (AM) mandou emissário em Macapá para levá-lo à desejada Zona Franca e ele se escondeu na “privada” no fundo do quintal e não quis acordo. Hoje é policial civil aposentado em Macapá.

Bira foi indicado pelo empresário libanês Stephan Whaite para o Paysandu. Tempos depois o “seu” Sthepan se instalou em Belém com a “Pará Amapá Compensados”.

Na Curuzu, Bira não se deu bem com o diretor da época, Agra Guimarães, e foi parar na Tuna, e lá foi reprovado nos testes. Ficou perambulando por Belém e foi bater às portas da “Casa do Azulejo”, do Álvaro Prata, que lhe deu comida e dinheiro prá voltar prá Macapá.

Nesta época Macapá era uma cidade carente de bons profissionais da medicina (como em outras áreas) e o hospital “São Camilo São Luís”, mantido por uma instituição italiana, contratava em Belém médicos para irem uma, duas vezes por mês em Macapá consultarem, e nesta leva ia o Dr. Roberto Macedo, dono da “Maymone”, e como desportista sabia o que se passava no mundo da bola tanto em Belém como em Macapá.

Sabendo que Bira havia voltada prá Macapá, foi até a casa da família Espírito Santo e conversou com Bira e o pai. Em Belém, Macedo conversa com Manoel Ribeiro e este com Jouber Meira, treinador do Remo, que deu aval para um período de testes no Baenão.

O resto da história a torcida paraense sabe o que aconteceu. Só não sabe que numa noite de balada (1977), em uma das boates de Belém, Bira (já famoso com à 9 do Remo) encontra-se com Álvaro Prata, o homem que matou a sua fome quando o Paysandu e a Tuna lhe dispensaram, e este quis brigar com o “Tremendão”.

Bira disse: “Álvaro, não vou brigar contigo porque tu mataste minha fome, mas o Agra Guimarães não me quis na Curuzu. Tu sabes disso!” Abraçaram-se e choraram!

Até hoje Bira não sabe o por quê do Agra não o ter aceitado na Curuzu. Perguntei ao Bira, por ocasião da homenagem que a FPF lhe fez no dia 11, no Pará Clube, como sendo o maior artilheiro da história dos 99 campeonatos paraenses, com 32 gols, em 1979, vestindo a camisa do Remo, se o coração de garoto continuava bicolor no que disse: “sangrou. Gosto do Paysandu, mas meu coração é azulino e espero um dia ser presidente do Clube do remo!”

Hoje, aos 58 anos, morando em Macapá, é acadêmico de jornalismo, apresentador de um programa de rádio e diretor comissionado do estádio “Zerão”.

Aliás, Bira em 1978 foi o artilheiro do campeoanto Paraense com 25 gols - também até hoje nenhum atacante chegou a esta marca. Portanto, são dois records: 1978(25) e 1979(32).
É o que há!

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